Diretório Estadual do Rio Grande do Sul

BRIZOLA E A CRT

Por: Miguel Prietto

Do Movimento Autenticidade Trabalhista

 

Leonel Brizola sempre demonstrou extraordinário poder de observação e fantástica intuição futurística. Ora, sendo a tecnologia um agente revolucionário, comprovada com os meios elétricos e eletrônicos, Brizola sabia da necessidade urgente de disponibilidade de eletricidade e telefonia para a concretização da política desenvolvimentista trabalhista.

Ao estudarmos a história da telefonia brasileira, notadamente a gaúcha, dos sistemas telefônicos, de comutação, de transmissão, bem como a sua infra-estrutura, a mesma nos mostra que até o início da década de sessenta, os equipamentos existentes no Rio Grande do Sul operados pela norte-americana International Telephone and Telegraph Corporation – ITTC estavam obsoletos, inoperantes e restritos a poucos centros urbanos, ou seja, estavam na contra mão do desenvolvimento econômico do Estado. Desnecessário, por conclusão óbvia, falarmos do atendimento no campo social.

A referida empresa norte-americana ignorava por completo a potencialidade gaúcha, em visível desrespeito ao nosso povo. Os equipamentos utilizados se mantinham adstritos a tecnologias já totalmente ultrapassadas e obsoletas.

Já nos primeiros equipamentos de comutação, as linhas estavam dispostas no múltiplo das mesas operadoras, em filas horizontais e verticais, formando assim um sistema de coordenadas. A telefonia automática foi iniciada procurando-se imitar os movimentos da operadora dentro desse sistema. Assim, é que um braço mecânico procurava a linha solicitada, através de um movimento giratório, eventualmente combinado com uma translação em um plano vertical. Estes seletores eram mecânicos com dispositivos de acoplamento de fonte motora controlados magneticamente. Eram as centrais “Passo a Passo”. Tanto aquelas – mesas, quantos estas – centrais, constituíam-se em verdadeiras peças de museu a desserviço do Rio Grande do Sul.

Cientistas já tinham desenvolvido novos equipamentos com novas tecnologias, tais como em localizar as linhas segundo um sistema de coordenadas referidas a apenas a dois eixos, “x” e “y”. Eram os seletores de coordenadas, chamados “crossbar”, tecnologia de barras cruzadas. Verificava-se extraordinária superioridade sobre a tecnologia anterior, devido a sua velocidade de operação, segurança de funcionamento, muito mais racionalizada, ocupando menor espaço e com menor custo de conservação. As centrais automáticas com seletores “crossbar” cresciam no mundo civilizado.

Brizola sabia que novas tecnologias na área de telefonia já estavam sendo utilizadas nos países do chamado primeiro mundo.

Este fato somado ao desrespeito e ineficiência da empresa norte-americana International Telephone and Telegraph Corporation – ITTC, que nada investia, tornando-se um entrave para o desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul, tal o grau de precarização dos serviços que prestava, fez Brizola encampá-la corajosamente, provocando a ira dos norte-americanos.

Em 16 de fevereiro de 1962, através do Decreto 13186, Brizola, em nome do Estado do Rio Grande do Sul, cassou a permissão que possuía a então Companhia Telefônica Nacional, cujo controlador acionário, amplamente majoritário, era a norte-americana ITTC, sendo os seus bens desapropriados e declarados de utilidade pública. O Governo do Estado, imitido na sua posse provisória passou a exercitar a prestação direta dos serviços sob a designação de “Serviços Telefônicos Retomados”, logo após entregues à responsabilidade da recém criada Companhia Riograndense de Telecomunicações – CRT.

E foi a CRT pública que promoveu os avanços na telefonia no Rio Grande do Sul. Através de programas de expansão implantou no Rio Grande do Sul, em cidades de grande, médio e pequeno porte, centrais com tecnologia “crossbar”, a melhor existente no mundo naquela época.

A CRT nunca ficou atrás.

Foi determinação de Brizola, que a empresa do povo gaúcho, permanecesse sempre atenta ao avanço tecnológico, se preparando técnica e operacionalmente. Embasada nessa filosofia de trabalho e de atuação, ao longo da sua trajetória, se destacou no cenário nacional, buscando inovações e aprimoramento tecnológico com o fim de beneficiar o Rio Grande do Sul.

A CRT, desde o seu início, sempre procurou acompanhar o crescimento da economia gaúcha conforme permitia a melhor tecnologia da época.

Foi determinação de Brizola, que a empresa do povo gaúcho, oferecesse serviços de comunicações com qualidade e eficiência. Ao assumir a responsabilidade sobre os serviços telefônicos no Rio Grande do Sul, a empresa iniciou uma fase intensa de planejamento e de atividades, no sentido de modernizar, estender e tornar realmente eficientes as comunicações telefônicas no Estado. Mudou as tecnologias, centrais telefônicas e equipamentos de telecomunicações em geral. Tomou a fama de fiel ao pioneirismo em telecomunicações no Brasil. Fama esta que ultrapassou as fronteiras da nossa pátria, fazendo com que, nos meios industrias afins dos países desenvolvidos, a CRT era conhecida como empresa arrojada e pioneira em novas tecnologias.

Foi determinação de Brizola, que a empresa do povo gaúcho, tivesse a política de mudar conforme as novas tecnologias iam sendo desenvolvidas e lançadas no mercado, modernizando, assim, todo o sistema de telecomunicações do Estado. Determinações estas, que ficariam impregnadas no consciente e inconsciente do corpo técnico da empresa, por toda a sua existência.

 

Porto Alegre, março de 2006.