Diretório Estadual do Rio Grande do Sul

GLOBALIZAÇÃO - 2006

 

Por: Orion Herter Cabral

Do Movimento Autenticidade Trabalhista

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os Estados Unidos da América do Norte, país de propósitos liberais, não abriu seu mercado; a França, a Alemanha, o Japão e demais países desenvolvidos não abriram suas alfândegas. O Brasil abriu.

É muito estranho o pioneirismo brasileiro aderindo ‘a surrada Teoria da Divisão Internacional do Trabalho.

Não se trata de vantagens comparativas, pelo contrario, ficou demonstrado, por exemplo, que os custos de produção no Brasil da carne, do açúcar, do algodão, do suco de laranja, do álcool, dos têxteis e também do aço são menores do que nos norte-americanos, contudo, o mercado dos Estados Unidos está fechado à competição.

O protecionismo comercial do Primeiro Mundo tem sido oficialmente contestado pelo Brasil:

“A sobretaxa do aço e o aumento dos subsídios agrícolas caminham na contramão dos princípios da globalização ou do esforço de criação de uma verdadeira Área de Livre Comercio das Américas” disse Fernando Henrique Cardoso e seu ministro Pratini de Moraes ameaçou: “Subsidio não é pecado para contrabalançar o protecionismo americano e europeu”. O presidente Lula, andou mundo afora “convencendo” o Primeiro Mundo, das vantagens da globalização tem foi convencido da globalização imposta ao Brasil.

Tarso Genro poderia auxiliar: “...A negação da Nação é uma decorrência ideológica da vitoria americana sobre o sistema soviético, com as suas conseqüência visíveis: os americano vencedores impõem regras comerciais e econômicas. Elas são aceitas pelos governos que compreendem o protecionismo americano, ao mesmo tempo em que escancaram, sem reservas, seus mercados internos á concorrência de produtos subsidiados nos países de origem”

Justificando, os americanos acusam o Congresso: “a dificuldade reside no peso eleitoral e parlamentar dos diferentes segmentos da economia norte-americana, que disso se valem para bloquear iniciativas liberalizantes que lhes pareçam prejudiciais.Por exemplo, governadores de 13 estados norte-americanos produtores de aço se opõem á importação de produtos siderúrgicos do Brasil, pois isto determinaria o fechamento de siderurgias e a redução de empregos nos Estado Unidos.

Interessante! No Brasil, a preocupação dos congressistas é a mesma: Defender a economia norte-americana.

Celso Furtado, fiel burocrata de múltiplos governos aconselha: “No Brasil a aplicação de barreiras técnicas (normas de controle que dificultam as importações) é uma iniciativa que tenderia a alimentar os atritos comerciais entre os países”. Em outras palavras, relaxemos e gozemos como aconselha Marta Suplicy diante da baderna.

A TRÍPLICE VISÃO

Visão dos Adeptos

Os liberais estão convencidos de que as forças do mercado e a divisão internacional do trabalho otimiza a economia. A interação entre consumidores procurando qualidade e preço com produtores buscando o lucro determinaria o adequado ajuste entre a oferta e a demanda; enquanto a divisão internacional do trabalho, pela especialização regional, aumentaria a competitividade no mercado e a conseqüente redução dos preços - O Brasil, segundo este conceito, deveria voltar-se prioritariamente para a produção de alimentos, pela abundância de terras férteis e trabalhadores com baixa demanda salarial.

 Abrigado nas teses liberais, o capitalismo recente determina:

a desregulamentação da economia e a retirada do governo do planejamento econômico, para garantir a desobstrução das leis do mercado. Dentro desta tese, a função do Estado seria: manter a estabilidade financeira, com visibilidade da taxa cambial, dos juros e dos tributos, bem como garantir um tratamento igualitário para as empresas, de forma a permitir o planejamento dos negócios privados;

o mercado globalizado, para viabilizar a formação de grandes conglomerados empresariais capazes de diluir, no preço unitário dos produtos, os custos indiretos, os pré-investimentos em pesquisa e as despesas com propaganda.

a conversão das unidades de produção em sistemas produtivos internacionalmente divididos, segundo a melhor oferta dos fatores locacionais, para otimizar financeiramente cada etapa da produção;

a terceirização de sistemistas cativos com a diversificação acionária dentro do complexo produtivo, para a redução dos riscos e responsabilidades sociais de cada unidade empresarial.

 Dessa forma, a divisão internacional do trabalho e a globalização do mercado estabelecem o ritmo da economia atual, com a insidiosa justificativa das vantagens ao consumidor – como se o mercado fosse, invariavelmente, constituído de consumidores buscando qualidade e preço e de produtores satisfazendo as necessidades dos compradores.

Os disfarces desta lógica são:

As ações com total liberdade de mercado concentram a riqueza, centralizam a atividade produtiva e desorganizam as economias periféricas. Uma vez, estabelecidas às condições iniciais para o desenvolvimento em um pólo econômico, através do aproveitamento de recursos naturais, da infra-estrutura ou do mercado disponível, elas não se propagam de forma espontânea, pelo contrário, drenam as economias periféricas aumentando os desequilíbrios socioeconômicos;

A divisão internacional da produção confere vocação aos países desenvolvidos para a produção dos fármacos, da química-fina, da biotecnologia, da mecânica-de-precisão, da micro-eletrônica, enfim, o monopólio da indústria moderna. Contudo, em se tratando do petróleo ou da agricultura os países com propósitos liberais regentes do capitalismo atual, controlam o suprimento da energia que necessitam e fecham suas alfândegas para os produtos agrícolas. Assim “a teoria na pratica é outra” com validade somente no limite do interesse dos “maiores”;

O mercado é comandado pela oferta e não pela demanda. Os produtores e não os consumidores determinam a disponibilidade dos bens no mercado pela substituição dos produtos por similares ou através da propaganda, criando novas necessidades e mudando os hábitos de consumo da população. A falta de componentes e peças para a manutenção, muito mais do que a evolução tecnológica determina, hoje, a obsolescência prematura do automóvel e dos eletrodomésticos. Neste processo, a mídia tem um papel relevante, pois dela depende o convencimento do consumidor para incorporar novas necessidades e mudar sua estrutura de consumo. No supermercado, é possível perceber a indução dos consumidores para a compra de produtos supérfluos como: salgadinhos, refrigerantes e detergentes em lugar do leite, ovos, sabão e cereais, apesar do conhecimento de todos da essencialidade daquilo que a mídia não divulga, a propaganda se impõem;

A globalização determina a primazia do Primeiro Mundo. A soberania de estado ou, de forma mais branda, a autonomia de estado, como o poder de decisão, em última instância para, apoiados na lei, os governos, dos países subdesenvolvidos, preservarem direitos e deveres, públicos ou privados e estabelecerem planos de desenvolvimento de forma independente, em relação a qualquer intromissão estrangeira se anula diante da globalização. Demais, somente o Primeiro Mundo pode garantir a livre concorrência mediante embargos, retaliações, bloqueios econômicos e outras penalidades previstas pela Organização Mundial do Comercio enquanto o Segundo Mundo não tem com o que retalhar ou como penalizar;

Com o novo capitalismo o desenvolvimento se reproduz somente nos pólos tradicionais. As regiões periféricas ficam paralisadas diante da impossibilidade de proteger, estimular ou beneficiar empresas estruturadoras dos setores ausentes ou escassos internamente.

O cambio administrado com faixas diferenciadas, o crédito orientado, os subsídios tributários e outros benefícios governamentais para implementar as políticas de desenvolvimento, são meios irregulares nos acordos de unificação de mercados.

Em resumo, na Globalização Liberal o papel do governo é manter a estabilidade econômica e a eqüidistância fiscal para que as empresas possam desenvolver e implementar seus planos financeiros sob um clima de livre concorrência.

Diante da experiência desastrosa do liberalismo na Europa, entre a primeira e a segunda guerra mundial, que determinou o surgimento e implementação de três filosofias de estados fortíssimos: duas de direita o Nazismo e o Fascismo e uma de esquerda, o Comunismo, as idéias liberais, mesmo com a roupagem nova, não poderia ter conquistado tantos adeptos como se observa atualmente.

Os contrários

Nada de novo entre o céu e a terra. Como os liberais, os socialistas reformaram suas utopias: já não falam na apropriação dos meios de produção pelos trabalhadores, pois nos Estados Unidos da Americana do Norte, país de propósitos liberais, 1/3 do capital e a direção das maiores empresas estão na mão dos trabalhadores. Também, a união internacional dos trabalhadores perdeu apelo diante da proposta de globalização capitalista.

Na dialética Marxista a globalização é a tese, a antítese é o neocomunismo e a síntese o anarquismo - estágio avançado do comunismo. Negri, vedete do movimento antiglobalização, em artigo para Le Monde Diplomatique, explica: “a atual globalização e o neocomunismo, no fundo, não são opostos, pelo contrário sucederam a um mesmo processo revolucionário, que marcha para a anarquia igualitária prevista por Bakunin” (o anarquismo condena todo tipo de autoridade-política, religiosa etc. - reconhecidas como inibidoras das liberdades individuais).

A maioria dos contrários a globalização capitalista são favoráveis à chamada “globalização democrática” expressa pela liberdade e a libertação das culturas tradicionais e o respeito aos estilos alternativos de vida.

Pela paz dos incomodativos, retirem-se os incomodados.

Tal revolução usa como combustível o estranho ambiente que cerca as pessoas de forma gigantesca, anônima, distante e incerta, das mega-fusões de empresas multinacionais, do poder sem controle de um grupo restrito de cientista sobre a vida; da moeda única e dos fichários informatizados com todos os dados sobre o cidadão; das megalópoles agitadas e perigosas, comandadas pelo crime organizado da droga e da corrupção; do descrédito nas autoridades e das leis constrangedoras para as pessoas. Assim, diante de um mundo ameaçador, difuso e artificial, o anarquismo comprometido com uma vida singela e natural é a fantasia que embala os desesperançados.

A luta socialista não é mais como nos velhos tempos, do patrão contra o empregado, mas dos pobres do Sul contra os ricos do Norte, dos defensores da natureza contra a depredação competitiva.

Assim, a globalização democrática e o antiliberalismo, vão armando um novo combate à propriedade privada, à livre iniciativa, ao capitalismo, enfim é o velho comunismo.

Pensando bem, não se poderia esperar que uma única implosão fizesse ruir toda a construção comunista edificada cuidadosamente durante tantos anos. Na verdade, foi um túnel que escondeu a composição socialista ao trespassar a montanha do capitalismo selvagem.

 

A Globalização para a Produção

O trabalhismo brasileiro deve ter, em relação à globalização visão bifocal: uma para identificar o pesado volante social, cuja mobilidade é atenuada pelo alimento subsidiado internamente e externamente barrado pelas alfândegas dos países desenvolvidos; a outra visão, para reconhecer as oportunidades do mercado brasileiro.

 Preservar a alimentação saudável, variada e barata para o brasileiro é uma questão de segurança nacional. A abertura do mercado internacional para a agricultura brasileira com a eliminação dos subsídios, condição necessária na formação de mercados consumidores unificados, irá emparelhar os preços da comida no Brasil e no Primeiro Mundo.

Assim, ao falar do potencial de nossas exportações agrícolas é preciso pensar na equivalência dos salários. Nos Estados Unidos, por exemplo, é de US$1.200,00 o salário mensal da classe baixa. Estima-se que, sob a condição de mercados globalizados, 2/3 da população brasileira com mais de 10 anos necessitaria de um substancial reforço de renda para atingir o nível de alimentação da classe baixa do Primeiro Mundo. Portanto, a primeira indagação sobre a Globalização deve ser: quem pagará a conta de compensação salarial brasileira calculada em torno de US$ 100 Bi/ano.

De outra parte, com o foco para uma visão panorâmica, o Mercado Brasileiro, pelo tamanho e estrutura, apresenta inúmeras oportunidades para a produção interna de bens, insumos, máquinas e equipamentos modernos.

O mercado brasileiro, dentro do neocapitalismo é a maior riqueza deste País. Contudo, a inovação tecnológica exige pré-investimentos e representa riscos que a empresa brasileira ainda não tem condições de assumir. Cabe assim ao Estado promover a modernização da estrutura produtiva brasileira estimulando a iniciativa privada, participando ou provendo, a oferta de produtos da moderna tecnologia. Se assim não for estaremos comprometendo a nossa independência.

O Trabalhismo Brasileiro, com suas ideologias de Governo Nacionalista e Estado Desenvolvimentista reconhece somente a Globalização para a Modernização da Estrutura Produtiva Brasileira.

Queremos dizer muito mais, que precisamos de parceiros para a modernização da nossa estrutura produtiva.

Como se vê, a Globalização do Trabalhismo Brasileiro é diferente da Globalização dos liberais e não se identifica com a Globalização dos socialistas.

Finalmente, diante das dificuldades econômicas dos Estados Unidos, da Europa e do Japão e das vozes americanas e européias que já consideram a globalização como um problema é possível que o pensamento brasileiro concorde em rever os benefícios da globalização para o Brasil.