Cineasta Jorge Furtado 1024x630 1

 

A convite do presidente do diretório Metropolitano do PDT de Porto Alegre, vereador Mauro Zacher (PDT-RS), o cineasta Jorge Furtado falou, em mais uma edição do PDT em Debate, sobre a necessidade de uma união das forças de esquerda e os desafios para enfrentar o preconceito do atual governo brasileiro à produção cultural. Evento, realizado na última segunda (28), teve a presença do deputado federal, Afonso Motta (PDT-RS), da presidente da Juventude Socialista do PDT (JS-RS), Caroline Moreira, e a representante do Movimento Trabalhista de Cultura Darcy Ribeiro, Gisa Machado.

Autor de filmes como Ilha das Flores, Saneamento Básico e seriados globais como “Mister Brau” e “Sob Pressão”, Furtado, que não tem filiação partidária, destacou que é preciso aglutinar o campo da esquerda nas próximas eleições municipais, a partir dos seus consensos e “deixar as diferenças pare resolver depois”.

Na ocasião, o cineasta também revelou a sua opção por Ciro Gomes (PDT) na última eleição presidencial. “Entendi que ele seria o mais capacitado para impedir o avanço da direita”, disse. Falou ainda da sua ligação com as esquerdas e a proximidade da sua família com o PDT, com a sua mãe Dercy tendo sido candidata a deputada pelo partido, assim como o irmão Cláudio a uma cadeira na Câmara de Vereadores da capital gaúcha.

Sobre a conjuntura política atual, Jorge Furtado destacou que, na sua opinião, houve má avaliação das esquerdas quanto ao pensamento do eleitor brasileiro. “Especialmente sobre temas como o da segurança pública, que amedronta diariamente a população refém das facções e milícias em suas comunidades; da religiosidade, que não teve a compreensão da dimensão das igrejas nas comunidades mais carentes – e também como a única fonte presente de atividade social e cultural”.

Fake News

Outro ponto que ele levantou às companheiras e companheiros pedetistas presentes, foi o uso das redes sociais, onde as fakes news amplificaram os debates comportamentais como o da diversidade sexual, aborto e drogas, que estavam longe da pauta principal das pessoas, e acabaram por ser disseminados em grupos de whatsaap, com influência direta na consolidação de um posicionamento político à direita e no resultado da eleição. “Quem não lembra da propagação de absurdos como a mamadeira de piroca e o kit gay?”, indagou o cineasta.

Furtado também aponta, em sua participação, a a necessidade de união das esquerdas que, fragmentadas, podem não conseguir garantir a vitória.

“O atual presidente governa para 30% da população; para os seus e não para todo o Brasil. É um governo pobre em inteligência, que é uma das características do fascismo. São contra a inteligência, contra a ciência, contra a Cultura, contra a educação. Não tem propostas nenhuma. Ficam sempre criando conflitos, brigas e maluquices propagando fake News como forma de prender a atenção dos fiéis que eles têm, porque com 30% do eleitorado garante a que cheguem novamente a um segundo turno”.

Segundo ele, o Brasil é um país de grande desigualdade, construído em cima de 300 anos de escravidão e uma abolição “não muito efetiva”. Disse que, como na ciência, “é preciso fazer diferente para ter resultado diferente”; que o resultado vitorioso da centro-esquerda da eleição na Argentina e o prognóstico de maioria para a esquerda no primeiro turno no Uruguai, além do que está acontecendo no Chile – até então o modelo perfeito da economia neoliberal, que “está ruindo” – mostra que é possível ter esperança.

Investimentos

Em relação à Cultura, o cineasta lamentou o uso de um discurso desigual, que coloca o apoio do governo à produção cultural como impedimento para investimentos em outras áreas essenciais como a saúde e a educação. “É feito com base em uma lógica que fica difícil de combater”, afirmou.

Para ele, os investimentos devem acontecer simultaneamente em todas as áreas, de acordo com avaliações coletivas e transparentes, para que as pessoas sejam nutridas de suas necessidades básicas, entre as quais está a Cultura, que na visão de Furtado é o que define a unidade e a essência de um país, a partir da língua e das suas tradições representadas na música, no teatro, no cinema e outras formas de expressões artísticas. “Essas são as verdadeiras fronteiras, que nos diferenciam, por exemplo, da Argentina e Uruguai”, salientou.

Desmonte

Furtado disse que a Cultura tem que ser importante para a população. Disse que no caso do cinema, o atual governo está sabotando todas as possibilidades de produção e citou o caso da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

“Esse desmonte será sentido no próximo ano, porque neste ainda estão surgindo filmes que já estavam em andamento”, antecipou. Lamentou que o governo não se preocupe com a preservação da memória, de museus e acervos. “Tem a Cultura como sua inimiga porque trabalha na ótica do pensamento pobre de inteligência, que é uma das bases do fascismo”, afirmou ao lembrar o conflito estabelecido também no campo da ciência, a partir de dados sobre o uso de drogas de pesquisa da Fundação Fiocruz e de posição pessoal do ministro Osmar Terra.

Resistência

“A cultura vai resistir e sobreviver. Eu já vi a tentativa de acabar outra vez no período Collor e ela renasceu”.

Ele ainda falou da excelência na dramaturgia da televisão aberta brasileira, que é uma das poucas diversões disponíveis para a população de baixa renda, diante dos altos preços do cinema e do teatro.

“O cinema e o teatro devem ser mais baratos, e devem falar sobre temas que tenham identidade com a população”, argumentou citando a série “Sob Pressão”, de sua autoria que ao tratar de temas como a doação de órgãos e abusos infantis, produziu movimentações sociais positivas nos dias seguintes a exibição.

O cineasta defendeu a Cultura como um excelente produto para investidores. “Não polui, emprega mais, é associada ao turismo e paga salários maiores que em outras áreas”. Ele afirma que as pessoas viajam em busca de cultura e isso deve ser melhor explorado como uma rica fonte de desenvolvimento econômico e social.

“A Cultura leva as pessoas para a França, para a Espanha e outros lugares. É limpa, divertida, além do que é uma aeróbica para a alma”.

Ao final, Jorge Furtado reforçou o discurso de que a cultura não acabará, mesmo com o tratamento que vem recebendo do atual governo.

“A gente precisa de cultura para viver. A gente precisa de música de teatro, de literatura, e a produção cultural vai continuar sobrevivendo porque ela se reinventa mesmo diante das piores ditaturas”, ressaltou.