MAT: 0 TRABALHISMO BRASILEIRO SEGUNDO BRIZOLA

 

Autor: Leonel de Moura Brizola[1]

Síntese do pronunciamento de Leonel de Moura Brizola. Convenção do PDT, em 22 de junho de 2002.

A história do Trabalhismo Brasileiro é muito rica e isto garante sua identidade. Contudo, nossas preocupações são com o futuro e não com as recordações. Naturalmente, para a reconstrução da Pátria, deve nos valer das lições recebidas no passado, especialmente aquelas do grande presidente Getúlio Vargas.

A história criou as alternativas de esquerda e direita que envolveu as ideologias políticas. Contudo, para um prefeito, tapar um buraco na rua não é uma questão de esquerda ou de direita é o sentido de dever do homem público, do amor pela sua cidade. Por igual, a falta de escola em uma comunidade, a falta de ensino para as crianças, também não é um problema de esquerda ou de direita e sim a indiferença do governante para com as crianças.

Prestes, homem respeitável e de elevada conduta, chefiou a famosa marcha pelo Brasil que recebeu o nome de Coluna Prestes - a maior caminhada de protesto da América do Sul.

As divergências, as incompreensões e os choques acabaram por levar Prestes para a prisão no Estado Novo. Getúlio caiu e Prestes, ao ser libertado, declarou que lutaria por uma constituinte com Getúlio Vargas no poder. Mais tarde, Prestes foi expulso do Partido Comunista e nós trabalhistas o acolhemos, proclamando-o presidente honorário do nosso partido e, até hoje, conservamos seu retrato na galeria dos grandes vultos do Partido.

Vejam que caminhos, que encontros e desencontros, Getúlio e Prestes, duas grandes figuras nacionais em alguns momentos estiveram juntos e em que outros em lados muito diferentes.

Cito estes fatos, lembrando que Getúlio nunca se declarou da esquerda ou da direita e que seu desejo era a construção de um Ambiente Nacional de Desenvolvimento e Igualdade Social. Por isto, apesar de sermos muitas vezes considerados da esquerda clássica, nunca nos identificamos como tal. Em certos momentos, necessários e adequados, emprestamos solidariedade à esquerda brasileira, pois nossos objetivos eram semelhantes, apesar dos nossos meios serem diferentes e, especialmente nisto, o Trabalhismo Brasileiro se distingue da esquerda. Como dizia Alberto Pasqualini: nem Nova Iorque nem Moscou. Na Internacional-Socialista onde estão os socialistas, os Social-Democratas e os Trabalhistas Britânicos (da linha libor-britânicos, australiana e canadense) não nos identificamos com estas correntes, nós representamos um outro movimento social: o Trabalhismo Brasileiro, diferente do Trabalhismo Inglês porque somos do terceiro mundo. Nós temos uma identidade própria, não somos o resultado de um transplante dos Socialista-Teóricos, dos Socialistas Fabiano e outras correntes socialistas. As idéias, as teorias e a experiência externa, não nos serviram de modelo. O Trabalhismo Brasileiro é autóctone e autenticamente brasileiro, é crioulo.

Getúlio aproveitou algumas idéias originárias do Peru e do México, contudo, na América Latina, também não há nada igual ao nosso trabalhismo. O Trabalhismo Brasileiro formou sua base na realidade nacional, e se ergueu tratando nossos problemas de uma forma própria e com sucesso, sem precisar dos fundamentos da esquerda ou da direita.

Em 1950, o presidente Vargas se refugiou em São Borja, depois de amargas experiências.

Ao seu lado tinha como era conhecido, um jardim de infância freqüentado por Jango, Maneco e Brizola. Jango era muito especial para Getúlio. Leais a Vargas, havia, também, professores, estudantes e líderes sindicais, como Carlos José Vechio. Não contava, por exemplo, com o seu irmão, a quem prestigiou e deu força. O Dr. Protásio Vargas ficou no centro político brasileiro, presidindo o PSD, com os quadros do governo do presidente Vargas. Com sua morte, foi possível verificar que a grande maioria do povo brasileiro estava ligada ao Presidente Vargas por um sentimento muito forte de confiança e esperança.

Getúlio foi um homem de grande generosidade e profundo sentimento de humanidade. Ele deu um tiro em seu coração para manter o avanço do Brasil, pois, se ficasse vivo, seriam desvirtuadas as conquistas dos trabalhadores e a soberania nacional que ele defendia com muito ardor.

Caros companheiros e companheiras é bom que se reafirme em alto e bom som: nós não excluímos o capital. Consideramos o capital como trabalho economizado e necessário para a produção. O nosso Trabalhismo considera que o erro do capitalismo está na má distribuição da renda e sua transformação em instrumento de exploração e opressão do ser humano.

É nisso que se afirma o Trabalhismo Brasileiro. Também nos identificamos pelos compromissos sociais e nossa ação é para que não falte o essencial ao desenvolvimento do brasileiro. Queremos construir isto através da fonte geradora do próprio Capital o Trabalho. Com oportunidade e trabalho podemos construir uma grande nação.

Em lugar de nos submeter de maneira obcecada ao Capital devemos buscar, pelo Trabalho, a solução dos nossos problemas.

Nós não eliminamos a busca de recursos, inclusive externos, para aliar ao Trabalho e assim realizar o progresso, mas, não colocamos o Capital à frente do Trabalho.

O Brasil tem muitas riquezas: uma base física imensa, uma população grandiosa, um clima favorável e um povo capaz e generoso. Enfim, somos um país prodigioso. Deixem a nossa gente lutar pela nação e verão do quanto o brasileiro é capaz.

 

[1] Formação: Engenheiro pela UFRGS. Prefeito de Porto Alegre, Governador dos Estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Exilado Político por 15 anos. Presidente Nacional do PDT. Membro da Internacional Socialista.