CULTURA DO POVO UMA EXPERIENCIA BEM SUCEDIDA

 

Por:Vera Maria Castilhos Cabral

Do Movimento Autenticidade Trabalhista

25/03/2005

 

INTRODUÇÃO

A Arte do Povo deve ser priorizada sem ignorar a Arte para o Povo.

A Arte do Povo com suas singularidades tem despertado  grande interesse no Mundo Globalizado.

A Arte para o Povo, os grandes espetáculos artísticos, as exposições de pintores famosos, as festas de luzes e cores, são meios de aprimoramento cultural e satisfação da população. Os governos  promovem freqüentemente espetáculos artísticos para o povo, mas raramente têm interesse na arte popular.

Já a Arte do Povo se manifesta através do esforço individual de artistas autodidatas. Contudo, a cultura popular no Brasil tem identificando o País, caracterizado suas regiões e cooperado com o turismo - O carnaval, as festas juninas, as músicas e danças regionais comprovam a importância da Arte do Povo.

O aprimoramento da arte popular brasileira através das técnicas artísticas e o conhecimento da historia da arte qualificam a cultura regional. Em países desenvolvidos verifica-se maior capacitação dos artistas populares do que nos países periféricos.

Uma reflexão diante da Arte do Povo revela claramente que o sentido estético se manifesta de forma independente do desenvolvimento intelectual, mas o motivo inspirador do artista, sem formação adequada se fixa em objetos e sentimentos singelos com uma clara identificação da falta de recursos técnicos e dos movimentos artísticos. Demais, normalmente a arte espontânea enfoca o mais perceptível do objeto-inspiração, tornando-a monótona e sem interesse continuado.

A Leitura e Interpretação das artes clássicas também precisam ser aprimoradas no Brasil. Observa-se nos museus, brasileiros deslizando de quadro em quadro sem interesse nas formas, nas cores, nas técnicas ou no contexto histórico. Contemplam as obras de maneira superficial. Só raramente vivenciam as tensões e as soluções que marcam o trabalho do artista. A causa, desse despreparo constrangedor é a formação oferecida pela maioria das nossas escolas.

Nas aulas de artes, do segundo grau, identifica-se alunos indispostos, recusando a disciplina oferecida sem que a   escola possa oferecer todas as modalidades de arte.

Finalmente, com relação ao fator social, o brasileiro muitas vezes considera a educação artística símbolo de “status” e algo fútil, ignorando o potencial educativo na formação integral do cidadão.

Essas dificuldades não existiam somente no Brasil e foi assim que a partir de arte-educadores norte-americanos na década de 1960 novos conceitos sobre o aprendizado artístico têm se firmado de forma universal. No Brasil dos anos 90, nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Área a Metodologia ou Proposta Triangular, sistematizada por Ana Mae Barbosa na década de 1980, se converteu no fundamento oficialmente proposto pela Secretaria de Educação Fundamental do MEC, orientando o ensino artístico no Brasil.

A Metodologia Triangular determina o ensino das artes sob  três vertentes:

  • O fazer artístico, que é o concreto, o atelier, a produção, a última instância para o artista.
  • A apreciação artística pelo conhecimento dos materiais, das técnicas e das soluções artísticas e
  • A contextualização histórica da obra.

 

PLANEJAMENTO

Há uma cultura erudita ou universitária, centralizada no sistema educacional e principalmente nas universidades e uma cultura popular correspondente aos costumes e formas de expressão das pessoas com pouca escolaridade. São exemplos de manifestações da cultura erudita em nosso meio: as obras literárias de Erico Veríssimo ou João Simões Lopes; de pintores como de Aldo Locatelli ou Candido Portinari; de compositores como Carlos Gomes ou Vila Lobo, de arquitetos como Oscar Niemeyer e Lucio Costa entre outras. Quanto a cultura popular brasileira adquire milhares de formas, a maior parte sem autores identificados. É o caso: do frevo, da rancheira, da cavalgada, do bumba-meu-boi além dos contos, dos mitos, das lendas, dos festejos e diversões, das crendices e superstições e também da culinária, das rezas e das benzeduras, do vestuário e muito mais.

Quanto ao objeto-inspiração, pintores e escultores populares desenvolvem, normalmente, a arte realista ou figurativa retratando cenas do cotidiano (o gaúcho e o mate, o nordestino e a seca, flores, frutos, paisagens) e na escultura modelados em diferentes materiais objetos e utensílios ordinários (instrumentos musicais, incrustações de imagens do campo em cuias de mate e em cintas para gaúchos). Outro grupo temático é a arte irreal, como o Negrinho do Pastoreio, as caretas e a literatura de cordel cujo objeto-inspiração se encontra na imaginação do artista.

O artista popular tem uma vocação natural e aprende sozinho.  Contudo o desenvolvimento artístico é o resultado de um aprendizado complexo, que não se realiza de maneira espontânea e auto-expressiva.

Neste sentido, os programas voltados para a cultura popular não podem ser ignorados pelo PDT.

A transposição, das recomendações para o ensino das artes nas escolas brasileiras, para a Arte Popular deve ser a base dos programas do PDT para a Cultura.

 

UM PROGRAMA BEM SUCEDIDO

O programa de Cultura do Povo, do Governo Collares, no Estado do Rio Grande do Sul contemplava três projetos prioritários:

  1. O Palco Móvel;
  2. As Oficinas de Arte e
  3. Os Núcleos Culturais.

 

  1. PALCO MÓVEL (CARRETA DA CULTURA)

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais referentes à arte, a música sempre esteve atrelada às produções culturais e às tradições de cada época, de modo que qualquer proposta de ensino que considere tal fato deve permitir que o aluno traga a música de seu cotidiano para a escola...

Transpondo esta recomendação para a Cultura Popular surgiu na Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul durante o Governo do PDT o projeto Carreta da Cultura.

A “Carreta da Cultura” tinha como objetivo principal a integração e a divulgação de artistas populares não profissionais. A “Carreta da Cultura” era um palco móvel para apresentações de artes-performance, disponibilizado em uma vila para a apresentação de artistas populares convidados de outras vilas. Não deixa de ser, uma versão do trio elétrico nordestino com pontos de contato com o que se observa em Havana onde nos restaurantes em geral apresentam-se, ao vivo, conjuntos musicais de qualidade artística compatível com o estabelecimento.

A “Carreta da Cultura”, nos sábados à tarde, era disponibilizada nas vilas para o “Baile na Rua”, nos domingos, para a apresentação, por artistas da cidade, do “Teatro de Bonecos” e a apresentação de músicos amadores convidados. Impressionava a quantidade de público em todas as apresentações.

Durante o período natalino, no interior do Estado ou nas vilas da Região Metropolitana de Porto Alegre era organizada, no palco da “Carreta”, “O NATAL NA PRAÇA” - um espetáculo teatral orientado por profissionais e apresentado por populares que se encarregavam do cenário utilizando caixas de papelão, palhas e sucata coletada no local. A acolhida da população para esses espetáculos era expressiva e a emoção dos figurantes, dos seus parentes e amigos, contagiava a todos, inclusive os técnicos da Secretaria.

A "Carreta da Cultura" era um caminhão com um tablado (palco) acima de alto-falantes instalados na carroceria. No palco se apresentavam músicos ou eram encenadas pequenas peças de teatro. O publico assistia da rua, em torno da "Carreta".

 

  1. OFICINAS DE ARTES

As oficinas de artes, no Governo Collares, tinham como objetivo  orientar artistas amadores em relação:

  1. As “Técnicas Artísticas” principalmente do teatro, da pintura e da escultura.
  2. A “Leitura e Interpretação Artística” através da Historia das Artes, com a contextualização das principais Escolas Clássicas e seus artistas.

As “Oficinas” funcionavam em creches, escolas e outros espaços comunitários durante o tempo ocioso da atividade principal ou em Casas de Cultura - edificações permanentes equipadas apropriadamente para o aprendizado e apresentações artísticas.

Professores qualificados em cada modalidade de arte orientavam o aprendizado em cursos com duração de 60 horas/turma de 15 alunos.

Este projeto foi testado em Porto Alegre, nas vilas populares e no Interior do Estado nos Centros Culturais Comunitários.

As oficinas contemplavam duas frentes principais: artes visuais e teatro.

 

  1. NÚCLEOS CULTURAIS

Para oferecer de forma tão ampla o Programa Arte do Povo, abrangendo todo o Estado do Rio Grande do Sul, foi estimulada a criação de Núcleos Culturais - associações de interessados em cultura, organizadas e vinculadas ‘a Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.

Aos núcleos cabia:

  1. Fomentar as atividades culturais nos municípios em geral e nas vilas de Porto Alegre de forma especial.
  2. Elaborar projetos destinados a obter benefícios fiscais do governo federal (Lei Rouanet) buscando na comunidade os empresários interessados em transferir parte do imposto de renda para projetos culturais.
  3. Posicionar a Secretaria em relação das demandas locais.

 

A Secretaria cabia:

  1. Organizar e Orientar os Núcleos Culturais.
  2. Disponibilizar Oficinas de Arte segunda a demanda da comunidade.
  3. Dar apoio administrativo aos Núcleos Culturais e
  4. Estimular a criação de Casas de Cultura no Município.
  5. No Governo Collares foram criados núcleos culturais em vinte e sete municípios Gaúchos e dois em vilas de Porto Alegre.

 

Curiosidades:

  1. O Núcleo Cultural da Restinga – POA solicitou apoio para a criação de um time de futebol. 
  2. O Núcleo Cultural de Jaguarão - RS promoveu uma reunião da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul com o Ministro de Cultura do Uruguai. Entusiasmado com o projeto dos Núcleos Culturais solicitou apoio da Secretaria para a organização de Núcleos Culturais nos Departamentos Uruguaios. Efetivou-se assim um interessante projeto de cooperação internacional.
  3. Vereador da Cidade de Concórdia - SC procurou a Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul para se inteirar a respeito dos Núcleos Culturais e solicitou oficinas para a organização do “Natal na Praça” em sua cidade. Naturalmente, a burocracia não viabilizou esta demanda.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os aspectos mais importantes proporcionados pelo ensino das artes é o desenvolvimento da imaginação e do potencial criativo, bem como a compreensão de que a apreensão da realidade pode ser realizada através de varias linguagens e não somente pela verbalização racional.

O Trabalhismo de bases populares, não pode ignorar a concepção desenvolvida para a Cultura no Governo Collares, esperando-se que a qualificação da Arte Popular conste como prioridade em qualquer plano de Governo Trabalhista.