Trabalhista histórico, faleceu hoje (1º) em Porto Alegre o ex-deputado estadual e ex-prefeito da Capital Sereno Chaise, aos 89 anos. Ele estava internado há 30 dias na UTI do Hospital Mãe de Deus e faleceu em decorrência de falência múltipla dos órgãos. As cerimônias fúnebres serão realizadas no Cemitério Jardim da Paz a partir das 19h de hoje, e o sepultamento será amanhã (2), às 11h. Em virtude do falecimento, foi cancelada a sessão plenária desta tarde.
A trajetória política de Sereno Chaise, nascido em 31 de março de 1928, em Soledade, está intimamente vinculada ao avanço da doutrina política trabalhista no Rio Grande do Sul, sob a liderança do ex-presidente Getúlio Vargas. Prefeito cassado de Porto Alegre em 1964, Chaise iniciou a militância política ao lado do ex-governador Leonel Brizola, ainda no período estudantil, na década de 40 do século passado. Os dois construíram juntos as bases do Partido Trabalhista Brasileiro no Rio Grande do Sul. Chaise foi eleito vereador em 1951 e presidiu a Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Coordenou a campanha eleitoral de Brizola à prefeitura, em 1954, e foi secretário de Governo. Em 1958, aos 30 anos, elegeu-se pelo PTB com a segunda maior votação para a 41ª Legislatura da Assembleia Legislativa. Assumiu a liderança do partido durante o governo de Brizola (1959/1963), período em que o então líder político comandou a Campanha da Legalidade, em 1961, a resistência à tentativa de golpe imposta pelos militares depois da renúncia de Jânio Quadros, em agosto daquele ano, para impedir a posse do vice-presidente, João Goulart.
Sereno Chaise foi eleito prefeito de Porto Alegre em 1963 e teve o mandato cassado pelo golpe militar depois de quatro meses da posse. Foi preso e a cassação do mandato aconteceu através do Ato Institucional N° 1 em maio de 1963. Ele teve seus direitos políticos cassados durante dez anos, recuperados somente na Anistia, em 1979. Nessa época, atuou ativamente na sua profissão, a advocacia. O longo exílio de Leonel Brizola – 15 anos – consolidou a amizade dos dois dirigentes políticos. Daqui – enquanto Brizola esteve no Uruguai, Estados Unidos e depois Portugal -, Chaise cumpriu importante papel na construção de alternativas ao cerco promovido pelos militares contra os exilados e perseguidos políticos, e seus familiares.
Na redemocratização do país, em 1979, Sereno Chaise retomou a construção partidária com Brizola, através da fundação do Partido Democrático Trabalhista, PDT, depois de frustrada a tentativa de retomar a histórica sigla PTB. Disputou vaga ao Senado Federal em 1986 e o governo do Estado em 1994, após o governo trabalhista de Alceu Collares (1991/1995). Durante mais de dez anos, Chaise foi presidente estadual do PDT, função que exerceu com o empenho de construir a sigla em cada um dos municípios do Estado. Também ocupou cargos no Diretório Nacional da sigla. Foi em 1998, depois do apoio do PDT ao candidato do PT, Olívio Dutra, no segundo turno da eleição, que a legenda de Leonel Brizola se dividiu. Depois de um ano participando do governo petista, o PDT deliberou pela saída do governo e Sereno Chaise, na vice-presidência do Banrisul, rompeu com Leonel Brizola e assumiu filiação no Partido dos Trabalhadores, juntamente com Dilma Rousseff e outras lideranças do trabalhismo.
Presidiu a Companhia de Geração Térmica de Energia, CGTE, de 2006 a 2015. Em 2011, Sereno Chaise foi um dos homenageados pela Assembleia gaúcha, sob a presidência do deputado Adão Villaverde (PT), com medalha alusiva ao cinquentenário do Movimento da Legalidade. Em 2014, por iniciativa do então vereador Pedro Ruas (PSOL), Sereno e ex-vereadores cassados na época – como Marcos Klassmann, Indio Vargas e Glênio Peres – receberam simbolicamente seus mandatos obtidos pela escolha livre e democrática do povo de Porto Alegre.
Ele deixa a esposa, Rosane Zanella, e os filhos Carlos Eduardo, Rosa Maria e José Antônio (falecido), e sete netos.
Confira a entrevista concedida por Sereno Chaise à Agência de Notícias da ALRS em 2011, no cinquentenário do Movimento da Legalidade:
Sereno Chaise: “Legalidade foi um momento histórico, que repetiu o movimento revolucionário de 1930”